Contos, reflexões, ensaios... tudo em prosa. Com um generoso toque de sentimentos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A cidade de K. era pequena. Não haviam chegado os males e os benefícios contemporâneos.
Os que chegavam (quando chegavam), avistavam de longe a grande torre da Igreja, com seu relógio parado, com dúzias de casas rodeando-a.
Camilo chegou à K. numa noite de lua mingüante. Não era uma pessoa sensível, ainda assim emocionou-se ao perceber que havia voltado.
O exílio fora escolha própria. Não haviam mais condições de vivência digna na situação que se encontrava.
O limite geográfico transferia-se às pessoas.
Camilo nomeava "limitação mental". Mas ao dar-se conta que voltara, ele percebeu que ela havia afetado-o, o que sempre jurara não ter havido.

Ele não sabia que horas eram. Era noite. Não sabia onde ir. Não sabia onde começar. Como começar...
Indagava-se sobre sua volta. Teria sido prudente? Ele fugira. E mesmo os anos fora, ainda estava fugindo.
A sua dependência dos olhares taciturnos dos moradores, da falta de sofisticação, da vida cotidiana, do relógio parado, do vento forte, e da total indiferença (indiferença absoluta, de todos os lados), era uma "limitação mental". Camilo não tinha mais nada. Haja vista a limitação, ele estava fadado às limitações de K. Só assim ele conseguiria evoluir.
Mas como evoluir sendo limitado?