Contos, reflexões, ensaios... tudo em prosa. Com um generoso toque de sentimentos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Indagações...

Pois que todos os dias ele passava fumando... Ai, que ele parou de fumar?
Agora essa... Que poderia ter acontecido? Fumava sim, todos os dias, sempre que o via passando, estava a fumar. Agora não se vê com um cigarro por perto.
Ai, que isso não me alegra. Agora como poderei referir a palavra a ele?
Já havia, inclusive, começado a fumar para ter o pretexto de pedir-lhe um isqueiro, assim chamaria sua atenção.
Até já o fiz, porém não adiantou muito. Ai, que me ignorou quase por completo.
Que poderia significar? Que não represento-lhe nada?
E olha que o pedi usando todo o meu charme possível. Sempre tento chamar-lhe a atenção, o que parece ser em vão. Ai, que não entendo.
Ai! Deus! Será que ele não gosta das que chamam a atenção?
- Poderias ser mais recatada, menina! Assim, quem sabe, ele não te repara e passa a olhar-te como desejas? - diria alguém
Ai, que ele nem vai prestar atenção em mim... Nem irá avistar-me.
Tenho que ter os mesmos costumes que os seus. Conhecer as mesmas pessoas, freqüentar os mesmos lugares, ter os mesmos costumes.
Tanto que comecei a fumar por sua causa. A desculpa do isqueiro, se feita com mais freqüência gerará uma...
Ai, mas e se ele realmente parou de fumar? Como farei?
Não sei bem os lugares que ele freqüenta, além de saber que freqüenta os bailes da capital, os quais nem me atrevo a ir.
Ele é um homem tão importante. Como farei eu para que me repare?
Seriam necessárias roupas novas. E atitudes mais altivas para que me reparasse. Nada singelo, tudo poder e elegância.
O melhor perfume, o melhor tecido, a melhor costura.
E o andar sedutor e envolvente.
Ai, que não sinto-me feia. Também não ouso dizer que sou bonita, mas não sou de jogar-se fora. Tenho muitas virtudes que os outros desconhecem.
Não consigo alguém porque sou uma anta, lenta.
Ai, que eu queria que alguém visse minhas virtudes todas, e que eu pudesse passar muito tempo, e que me completasse e que pudéssemos discutir as mais variadas coisas, tudo nosso interesse.
Afinal, quem é que não vive com a eterna vontade de ser amado?
Faço eu mal?
Não. Faço apenas aquilo que me convém ser a coisa certa. Mesmo vivendo apenas de idéias não realizáveis. Hipóteses...
Ai, que sou mesmo uma anta. Não seria mais agradável se me despertasse o interesse aquele que já está interessado em mim?
Pois que isso deve ser maldição. Já ouvi falar que existem pessoas que fazem certas "misturas" com intenções torpes:
- Pára com isso, menina, isso não existe. É coisa de sua cabeça.- dirá alguém.
Ai, lá vai ele em seu caminhar. Aonde estará indo?
Poderia ser esse o momento que eu poderia pedir-lhe um isqueiro para acender um cigarro e ele sorriria e perguntaria como eu tenho passado, e começaríamos um ótimo relacionamento.
Mas já que o maldito parou de fumar, todas as esperanças, que já eram frágeis, fossem pelo ralo. Nunca mais terei uma outra oportunidade de me aproximar dele.
Sou mesmo muito desgraçada.
E jamais homem algum iria querer algo comigo, pois eu ficaria imaginando tantas coisas que iriam para o ralo assim como essas.
A próxima serei eu. A descer pelo ralo de um fedor inebriante. Sempre para baixo. Sempre num lugar mais e mais sujo. Todo o esgoto em mim. Ficarei tempo suficiente lá até poderem confundir-me com qualquer outro dejeto. Sim, isso que sou, um dejeto.
Então eu iria ser despejada no mar, e ninguém notaria minha falta.

Ai! Que seria aquilo em sua mão? Está acendendo um cigarro?
- Corra, corra, corra! Vai logo pedir-lhe o isqueiro.- diria alguém.