Contos, reflexões, ensaios... tudo em prosa. Com um generoso toque de sentimentos.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Prolixos...

Simon gosta de caminhar... Sente-se bem ao caminhar...
Caminhando por muitos quilômetros ele se encontra. As coisas em sua cabeça se encaixam. Não há cansaço, há apenas esclarecimento e descontração...
Caminha por montanhas, bosques, florestas, pedreiras, e todo o tipo de campo. Quanto mais difícil o trajeto, mais realizado ele se sente.
Porém, Simon teme a solidão mais que tudo. Ainda assim, caminha sempre. Quando se sente sozinho, e ninguém consegue acompanhá-lo, ele adquiriu uma certa propriedade: fala com ele próprio...
Mas não que ele tenha esquizofrenia, ele apenas fala sozinho mesmo, como se falasse com os elementos inerentes à sua caminhada.
Simon, anda, fala, fala andando, e tudo o mais. Seu preparo físico já não se importa. Ele possui essa prolixidade e ela vence os outros síntomas...
Quando Simon não anda, ele fica lacônico. Quando fica lacônico, ele fica depressivo... E quando fica depressivo, ele anda.

Simon tem um relacionamento um pouco estranho com Narcisa.

Narcisa é um Simon mulher. A diferença é que para Narcisa o andar é fumar.
Narcisa se contenta com seus milhares de cigarros. Os cigarros substituem os passos.
Narcisa, quando não fuma, também fica lacônica. Quando fica lacônica, se torna depressiva, quando se torna depressiva: fuma.
Narcisa, quando se sente sozinha enquanto Simon vai em suas caminhadas, vai a algum bar, fuma, bebe, e conversa com alguma amiga. A prolixidade de Narcisa é a mesma que Simon. Mas Simon conversa com a natureza, Narcisa conversa com amigas (muitas vezes ela nem sequer conhece, mas ainda assim fala demais).

Narcisa sem cigarros, ou Simon sem andar. Sem esses dois elementos sua relação seria insustentável. Dois depressivos, lacônicos, neuróticos e taciturnos namorando: suicídio.

Simon é alérgico aos cigarros. Narcisa não agüenta sequer subir as escadas (por conta dos cigarros), o que fazer senão se encontrar pouco?
Mesmo assim. Antes de Simon ir caminhar (aos finais de semana), Narcisa e Simon passam horas a fio juntos. Se amam demais. Se completam. Tem os mesmos gostos. De vez em quando vem nos dois a mesma vontade. Se conheceram por isso.
Numa noite de verão, Simon estava se preparando para ir às montanhas, e Narcisa tinha ido comprar cigarros, quando os dois sentiram uma vontade louca de comerem Jambo. E não era época de Jambo. Os dois se conheceram brigando por um Jambo.

Fizeram um trato: Simon não andará até dar, assim como Narcisa, que não fumará até chegar o ponto. Simon caminha nos finais de semana, os dias que Narcisa fuma compulsivamente. Nos outros, para poupá-lo, fuma menos (cerca de 20 cigarros por dia). Nos dias de semana, Simon caminha pela própria cidade, sem viajar. Caminha bem menos, assim como Narcisa fuma menos (20km diários).
Segundo o trato, quando estão juntos eles têm que conversar durante duas horas primeiro, sem falar em seus vícios, para tentar diminuí-los, e depois começam a namorar.
Não dá muito resultado, mas ainda assim eles estão felizes. E ainda prolixos...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O caçador...

Igor tem um espírito livre. Não se prende a nada. Muito menos à vida, desde o momento em que a retira de outros seres o tempo todo.
Quando um futuro caçador começa a caçar, todas suas habilidades para a agricultura se esvai na eterna vontade da caça. A emoção, o perigo, o cansaço, a morte... Todos esses sentimentos conduzem o caçador à uma vida de solidão... E Igor é caçador...
Perpétua já é diferente. Perpétua é sonhadora, apaixonada e, ao contrário de Igor, ela é totalmente presa à terra por raízes de metros...
Foram obrigados a se casar, mas Igor não viveu ao menos um dia em sua casa. Acontece que estava bêbado. Vítima de uma plano sórdido preparado pelo pai de Perpétua, Amadeus, que queria casar sua filha, e, por atirar pior que Igor, queria-o preso à ela.
Unindo o que queria com o que o orgulho mandava fazer, Amadeus embebedou Igor, de modo que foi fácil casá-lo.
Amadeus, com tal ato, torna Perpétua ainda mais triste, pois acabou amando Igor, e esperando por ele sempre...
Acha Igor desatinado, folgazão, leviano e rude.
Em contrapartida, Igor acha Perpétua uma tola, fracassada e superficial...
Sempre que vê Igor trazendo algum javali, ou tetraz para seu patrão, Perpétua tenta trazê-lo a casa. Apela aos métodos mais torpes, como dizer a Igor que é sua obrigação dar dinheiro a ela, e que ela está precisada.
Igor sempre dá à Perpétua alguns rublos. Às vezes, Igor dá a ela a sua caça, seu maior tesouro. Perpétua dá afeto a Igor pelo seu olhar... Ele acaba sentindo-o, e ela diz satisfazer-se com o sentimento dele... Mas ainda assim, ela se lamenta por não ter ao menos uma noite de amor com seu amado, que agora acaba de construir uma casa nova para Sônia, enquanto a dela, sua mulher, cai aos pedaços...
Perpétua não agüenta mais, e acaba amarrando uma corda ao pescoço, amarra à árvore, sobe-a e se joga, caindo morta.
Igor, finalmente, depois de anos de caça, decide parar. Quando volta e vai a casa, vê ainda o corpo de Perpétua, e seu pai, sentindo-se culpado, a chorar embaixo de seu corpo.

domingo, 26 de agosto de 2007

"Será que é divina a vida da atriz?"

O ator é divino.
Ator mesmo. Não apenas alguém que "faça teatro"... Ser ator não é decorar um texto, fazer um melodrama e forçar um choro ou um riso... O ator encarna no personagem.
Ele esquece tudo que aconteceu. Esquece seu jeito de pensar, de agir... Todo o resto é apenas desconstruído, e constrói o personagem.
Não é ator aquele que apenas passa uma tinta...
Chico Buarque, ao escrever "Beatriz" fala sobre o que há de incógnito sobre o ator, nesse caso, a atriz...
O verdadeiro ator, o que não se acha em nenhum lugar, é aquele que deixa de existir quando quer. Que não possui nenhuma conta. Nenhuma casa. Nenhuma história...

sábado, 25 de agosto de 2007

Por onde andas, Inspiração?

Certo, não criei esse blog com um intuito tão pessoal, mas preciso expressar minha falta de inspiração.
Eu abro essa janelinha onde você escreve a suas novas postagens, vêm várias idéias, mas todas muito supérfluas, e na hora de passar para as letras: não sai.
Sim, mesmo com o blog tendo sido criado a pouquíssimo tempo, já estou sem ter o que postar. Criei com várias idéias lindas e legais, mas nada têm tido muita firmeza nas estruturas.
Não consigo escrever nenhum conto, nenhuma crônica, nenhum ensaio, nenhuma reflexão: NADA.
Só a minha indignação com a D. Inspiração.
Minha sorte é que não irei descontentar muitas pessoas, pois por ter pouco tempo de blog ainda não tenho leitores, digamos, assíduos. Mas se há algum, não se desespere, talvez essa falta de inspiração não me desconforte por tanto tempo...
Beijos!

domingo, 19 de agosto de 2007

"O acordo categórico com o ser"...

Milan Kundera chama de "acordo categórico com o ser" o fato de o ser humano nascer para se reproduzir. Com desconcertantes alusões sobre a merda logo depois.
Esqueçamos a merda, e concentremos-nos apenas no "acordo categórico com o ser". O ser humano se reproduz para gerar um ser que reproduzirá, no futuro.
Como se já não fosse o bastante vivermos e passarmos por todos os problemas na vida, ainda temos que nos preocupar com a tal da reprodução. E essa "responsabilidade" de se ter que gerar um outro ser induz o futuro progenitor a certos atos, que não se teria, caso não houvesse a vontade de reproduzir.
Pelo menos uma coisa é bem feita: o ato de reproduzir é prazeroso, e o impulso pelo mesmo é de tal força e tal pressão psicológica que chegam ao ponto de pagar para se ter sexo. Mas será que ela paga pelo sexo ou pela vontade avassaladora de reproduzir?
Pelo sexo!
Afinal: será a paixão a vontade de querer reproduzir com a certa pessoa?!

E quanto aos homossexuais, estéreis, ou que não desejam possuir filhos?

Pensando sobre isso me venho com o pensamento de que, ao menos com toda essa contemporaneidade, não se tem mais esse vontade de se reproduzir. A vontade é de fazer sexo. Reproduzir é um brinde.

E se realmente o sexo for "pecado" e o fato de poder se ter um bebê dentro de 9 meses for uma penitência pelo ápice do prazer?

Mas ainda assim eu me pergunto à respeito dos homossexuais. Porque, não obstante, os estéreis não têm culpa de nascerem sem o "dom" de dar a vida, e talvez nem os gays de se atraírem por quem não vai dar-lhe chance de dar a vida.
Num pensamento repleto de abstração: será a homossexualidade a revolta contra o "acordo categórico com o ser" e, dessa forma, acabar com a reprodução (no mínimo uma parte dela)?
Mas como nasce essa revolta? Será durante os meses de formação psicológica do bebê, ou mesmo com um "subconsciente" agindo sobre esse ser?
Então podemos ter uma razão para a homossexualidade: a revolta contra o "acordo categórico com o ser". Ou seja: a vida de um gay tem sentido apenas de revolta. Será que daí vem a promiscuidade e todas aquelas baladinhas em boates onde rola de tudo? Outras revoltas?

Já os estéreis... Bom, esse já são fatores biológicos mesmo. Não seria então a vida destes sem muito sentido? Certo que nesses "modern times" são ínfimos os estéreis que não arrumam uma maneira escrupulosa e legal de ser ter um filho.

Mas deixo aqui minha indignação: se todas essas nossas torturas de apaixonados for tudo culpa de uma vontade de se ter uma criança torrando a paciência, então nós somos mesmo muito contraditórios.

sábado, 18 de agosto de 2007

Ilusões proseadas...

"Ilusão é uma confusão dos sentidos que provoca uma distorção da percrpção. A ilusão pode ser causada por razões naturais (mudança de ambiente, deformação do ambiente, mudança de clima, etc) ou artificiais (camuflagem, mimetismo, efeitos sonoros, ilusionismo entre outros). Todos os sentidos podem ser confundidos por ilusões, mas as visuais são mais conhecidas. Uma vez que a percepção é baseada na interpretação dos sentidos, as pessoas podem experimentar ilusões de formas diferentes."

Também interpretada como um delírio, fantasia, alucinação, entre outras situações. Porém como seria uma ilusão?

Ilusões são tangíveis? Existe algum meio de se explicar uma ilusão? Algum meio que se aproxime ao menos do que realmente é uma ilusão?
Serão os nossos sentimentos como ilusões? Pois se não são, eles conseguem nos transmitir ilusões, alucinações, cegueira...
A partir desse princípio de que nossos sentimentos possuem o "poder" de transmitir Ilusões toda expressão de sentimento. Todo tipo de ARTE é uma ilusão. Ou ao menos uma espécie de Ilusão.
Quando se escreve se expressa sentimento. Então é possível transmitir uma Ilusão?
Não seria um romance uma ilusão? Os leitores se iludem com o romance. ALguns ficam tão iludidos que chegam a criar sentimentos fortes pelos personagens, lugares ou situações descritas no romance. Quando se lê uma cena que acontece numa praça vê-se a praça. Portanto esta é uma ilusão. Uma "confusão" da sua visão faz com que você veja a praça...

Portanto, aqui "prosearei ilusões". Uma tentativa, ao menos, de conseguir transmitir as minhas ilusões aos leitores.


Bem-vindos ao "Ilusões proseadas"... ^^