Contos, reflexões, ensaios... tudo em prosa. Com um generoso toque de sentimentos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ela sofreu com infidelidade.

Sarah limpou o cinzeiro, arrumou suas coisas e foi-se a arrastar pelo corredor seu computador em uma mesa de rodas.
Passou pela sala do Jean-Pierre, que estava a falar ao telefone. Fez-lhe um sinal 'podemos nos falar?' ele respondeu 'mais tarde'. Era incrível a comunicação quase telepática que os dois possuíam.
Continuou pelo corredor e encontrou seu novo chefe, acompanhado de uma bonita mulher vestida de tailleur Chanel:
- Que oportunidade perfeita! Deixe-me apresentá-la, esta é nossa nova empregada, Sarah. Cuidará da parte de RH.
- Prazer em conhecê-la, Sarah. Igualmente foi a resposta.
Chegou, enfim, ao lobby. Havia um homem que cruzou seu caminho:
-Tu és a nova empregada, certo? - Fez que sim com a cabeça. A fala não era seu forte. - Tens um olhar profundo. Deve ser de signo de ar com ascendência em terra. Libra em virgem, quem sabe? Eu sou Touro em Virgem, pura terra.
Sarah sorriu brevemente e continuou andando, deixando-o sozinho.

Estavam no carro ao som de algo animado. Jean-Pierre acabou descontrolando-se no trânsito e foi parado por policiais:
-O tanque de gasolina está cheio e não possuo drogas no porta-malas. Algo mais? Logo após mostrar os documentos e sua habilitação. Pegou sua Polaroid e tirou uma foto. O flash deve ter cegado o policial.

Acordaram no dia seguinte. Ou melhor, Jean-Pierre acordou:
-Tenho que ir trabalhar, embora adoraria continuar contigo. Sarah apenas sorriu e continuou com seus olhos fechados. Sua pele sentiu a barba rala de Jean-Pierre passando por seu corpo. O sono era maior.
Acordou. Pintou um pouco a casa, fumou alguns cigarros, passou a ferro o Ralph Lauren de Jean-Pierre. Nunca fora muito atraída por artigos de luxo, mas ela há de convir: Ralph Lauren deve desenhar com Jean-Pierre como modelo.
Haviam fotos espalhadas por sua escrivaninha. Todas com os dois modelando juntos. Uma foto havia Jean-Pierre por trás de Sarah com os ombros desnudos e olhos fechados, enquanto ele parecia esconder-se:
-Minha preferida.
De fato: quando pensava em Jean-Pierre sentia essa imensa vontade de fechar os olhos.

Andou um pouco pela Champs-Elyseés com seu patinete e algumas sacolas. O frio pediu-lhe um cachecol e um cigarro. Parou em um orelhão e não pode deixar de ouvir a conversa de um homem alto e bem vestido:
-Eu não entendo, Simone! Me explique! ao berros. Eu entendo toda a situação mas por quê um fax? O fax é que me revolta... Simone? Simone! Merda. e chutou a lata de lixo ao seu lado.
A piedade apoderou-se de Sarah levemente. Olhou afastar-se brevemente do orelhão e acender um cigarro. Aproximou-se:
-Com licença. Poderia me emprestar seu cartão telefônico? O cartão foi-lhe entregue.
-Alô?
-Sou eu, Sarah. Sinto saudade sua. Podemos nos encontrar agora?
-Desculpe, estou n'uma reunião. Saí para andar e fumar um cigarro por um instante. Talvez mais tarde.
-Humm.. a satisfação não foi a sensação de Sarah no momento. Tenho que desligar, peguei o cartão emprestado de um homem. Coitado, sua namorada terminou com ele pelo fax.
-Uma antiga amiga minha sofreu da mesma situação. Para vingar-se tacou o fax em cima da BMW do ex. 
Nesse momento Sarah olhou para o outro lado da rua e viu claramente Jean-Pierre ao telefone a abraçar-se com a loira que vestia Chanel. A laconia e o choque apoderaram-se dela no momento como uma camisa de força:
-Alô? Sarah? Que estranho...
Sarah observou-lhe beijar a mulher e entrar em um prédio. Ainda em choque e confusa:
-Ainda precisará do cartão? Ei, você?
Deu-se conta que ainda estava com o telefone no ouvido e devolveu-lhe o cartão.
-Você está bem?
Foi-se andando doida, inebriada, traída. Não sabia para onde ir, o que pensar. Sentia em si um ódio que esquentava-lhe todo seu corpo.

Um carro atingiu-a na rua. Caída no chão, não sentiu-se com vontade de levantar-se. Logo um grupo de pessoas a olhava e o motorista do carro perguntou-lhe:
-Eu machuquei você?
Nada dava-lhe forças. Cruzou suas pernas no paralama do carro gentilmente. Pegou um cigarro, acendeu-o e ficou a observar o céu e as nuvens. Era disso que precisava: deitar-se um pouco.
-Hey, você está bem? o homem do orelhão.

-Como pudemos ver neste gráfico pudemos ver que o aumento dos lucros da empresa superaram todos os recordes desde implementado meu sistema de comércio...
Jean-Pierre falava e, vez por outra, olhava Sarah, também presente na reunião. A mulher que vestia Chanel estava mais a frente e fazia anotações.
-... Agora mostrar-lhes-ei o gráfico de 95 pra cá e verão o que eu... - a imagem que apareceu foi de Jean-Pierre com a mulher. A outra. Ela estava a frente, mas não com olhos fechados. Jean-Pierre, por trás, mantinha a mesma expressão.
A vergonha atrapalhou a fala e arrepiou-lhe o corpo. Enrubesceu. A mulher de Chanel olhou, preocupada, para os chefes da empresa. Jean-Pierre suava e olhava para Sarah, que mantinha sobre ele um olhar inquisidor e frio.

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