Contos, reflexões, ensaios... tudo em prosa. Com um generoso toque de sentimentos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Indagações 2 ou Solidão p.3

Acordei.
Sempre que acordo em lugares estranhos sinto-me perdida. Por um momento parece-me que tudo é novo. Perco-me em minha confusão e na estranheza do lugar. Certas vezes perco-me no tempo. Parece-me que ainda sou jovem e aventureira, sempre em um lugar diferente. Não fico perdida por muito tempo, mas o momento é único.

Estava na casa de Leon, alguns poucos quilômetros de Roma. Fazia tempo que não nos viamos. Não é bom para mim voltar a me relacionar com Leon, Pietro sofre muito e não consegue transmitir o seu sentimento. Guardo-o para si, e certos momentos explode de maneira dolorosa, para mim e ele. O que me fez encontrar-me com Leon foi a carência. Não sei se meus sentimentos por ele permanecem. Vivo a repetir: nunca confio em meus sentimentos. Eles me confundem, como ao acordar em lugares estranhos. Quando pequena eles me confudiam mais, portanto adquiri o medo a aceitá-los, sempre fujo. Ou fujo ou jogo-me de cabeça. Que defeito!... Machuca-me também, e sempre caio em choro.
Conheci Leon quando ainda freqüentava certos encontros de intelectuais e estudantes. Aconteciam debates, regados a muito uísque e jazz. Logo despertou-me o interesse. Muito expansivo e eloqüente, com ideais maduros e concretos, diferente de Pietro. Os dois acabaram aproximando-se muito, e eu também. Apaixonei-me, e ele por mim. Pietro sabia quando a paixão despertou. Mantivemos um caso durante um certo tempo. Íamos para as toscanas, em muitas vezes. Caminhavamos muito, e Pietro acabou entrando n'uma de suas piores crises de depressão.

Vale lembrar uma diferença brutal entre mim e Pietro: eu choro muito e sou muito confusa. Pietro não chora, é confiante de si e também possui ideias concretos e imutáveis, porém ele guarda em si uma tristeza grande por certos traumas em sua vida. Ele vive crises de depressão enquanto meus conflitos vão com mais facilidade para fora de mim.

Enquanto mantivemos nosso caso Pietro calou-se ainda mais. Começou a beber quantidades incríveis e escreveu o suficiente para manter seu nome como grande escritor. A escrita é, de fato, fundamental a Pietro. Ele e Leon acabaram afastando-se, e isso gerou certos momentos em que eu acabei por afastar-me, também, de Leon, embora eu acredite que minha relação com ele tenha sido mais intensa. Quando optei pelo afastamento Leon chamou-me para morar com ele. Iríamos morar no norte da Itália, escreveríamos e lecionaríamos no Liceu da cidade. Confesso: se fosse apenas meu amor por Pietro eu escolheria morar com Leon. O que realmente foi fundamental em minha decisão havia sido Marccelo. Ele precisava de mim e Pietro juntos, eu não via nenhuma outra possibilidade. Se mudasse a vida de Marccelo todos meus planos para com ele iriam cair por terra. Não julgo desamor por Pietro, e confesso ter sido egoísta.

Eu e Leon trocavámos cartas esporadicamente durante o afastamento. Em dois anos não havíamos trocado nenhuma correspondência. Mudou-se para a memória, e apenas em memória. isso até abrir a carta de Hélène.
Ela havia causado a Pietro e Marccelo muitos problemas. Namorava Marccelo e dizia-se apaixonada por Pietro. Uma das presenças mais cativantes e atraentes que já conheci, causou muita frustração e a ilusão, em Pietro, de que ele ainda despertava o interesse de uma jovem tão interessante... Marccelo também apaixonou-se perdidamente por Hélène. Uma data que me foge da memória, embora de extrema importância, acabei bebendo muito uísque e me descontrolei. Ataquei Hélène e mandei-a nunca aparecer aos nossos pontos de vivência. Pietro e Marccelo culparam-me durante muito tempo, não obstante não me arrependo nem por um instante.

Era-me desconhecida a relação de Leon e Hélène, mas ela escreveu-me dizendo um local de encontro e hora. Dizia que Pietro nunca leria uma carta mandada por ela, e não queria que ele soubesse de meu encontro com Leon. Confesso: empolguei-me muito com o reencontro, e respondi a ela uma confirmação.

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