Essa individualidade de Pietro beira o egoísmo. Se eu não existo enquanto ele fecha os olhos então a única importância é ele. Não sou assim. A xícara de café continua a fumegar, quer eu olhe-a ou não. Pietro continua a trabalhar em sua escrivaninha enquanto estava a banhar-me.
Neste ponto Marccelo assemelha-se ao pai. Desprendeu-se de mim e de sua criação sem ao menos terminar minha única imposição. Sempre fora muito apegado a mim, e era recíproco. Pietro me ama, mas não me supre. Marccelo supria-me. Sua vida era uma continuação da minha. Ele viveu de minha disposição durante quase toda sua vida. Sua independência, creio eu, nunca virá, já que Débora manda-lhe e ele não questiona. Tornou-se dependente de uma mulher sem juízo, sem orientação, sem boas relações... Ai, que gostaria de entender o que ela fez. Repito: sexo. Enquanto eu supria-lhe com livros e estudo (os quais ele parecia totalmente entusiasmado) ela a supre com uma vida de merda na Espanha. Veja só: mudou-se para a Espanha.
Me vesti, amarrei um turbante na cabeça e pûs-me à frente do espelho.
Aquela visão era mais satisfatória: com roupas a tapar-me as rugas, e com turbante para tapar-me os cabelos brancos.
Era domingo e fui olhar a correspondência: duas cartas. Uma era de Marccelo contando as novidades (suas cartas pareciam sempre as mesmas: o trabalho com o sogro, sua vida feliz com Débora e a suposta infertilidade da mesma), e uma de Hèléne. Que atrevimento digno de admiração.
3 comentários:
tô gostando disso =]
idem Nick, idem...
to gostando disso [3]
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